RELOAD

Após mais de um ano fora do ar ou simplesmente desatualizado, resolvi fazer um RELOAD do "Concepções e Conjunturas". Buscando alternar a proposta entre artigos, notícias e sempre algumas concepções e na busca pela praticidade do assunto central que motivou a criação do blog: discutir e comprender um pouco de economia. Nesta ótica, darei início hoje a uma série de publicações de vídeos explicando e sistematizando conceitos econômicos. Vídeos estes que podem ser encontrados disponíveis em diversos sites e portais, estarão agora também disponíveis em "Concepções e Conjunturas"! Sempre, é claro, divulgando a fonte para não roubar os direitos autorais de ninguém.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Entrada de Dinheiro não significa Desenvolvimento


Toda vez que fecha-se a balança comercial com lucro a idéia é que com certeza haverá ou houve desenvolvimento econômico. E quando pensamos em “desenvolvimento econômico”, seguimos a idéia na qual Celso Furtado constrói sua crítica, “a idéia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos”. Esta semana estive lendo o relatório do Ministério de Desenvolvimento do Brasil, referente a balança comercial de exportações e importações dos municípios brasileiros, que me fez lembrar imediatamente de outro Relatório do Índice de Desenvolvimento Municipal, elaborado pela FIRJAN, divulgado em julho deste ano. Uma breve análise dos dois é suficiente para provar que entrada de dinheiro não necessariamente implica em desenvolvimento sócio-econômico. Confirmando Celso Furtado, “o aumento relativo de privilegiados...não impede, entretanto, que se mantenha e aprofunde o fosso que entre eles e a grande maioria da população...”.

Divulgado recentemente, o primeiro relatório mostra que “... 2.259 cidades brasileiras operaram no comércio exterior. De janeiro a setembro, as exportações brasileiras somaram US$ 150,868 bilhões e as importações US$ 131,212 bilhões, desempenhos que resultaram num superávit comercial (diferença entre o valor exportado e o importado) de US$ 19,656 bilhões.” De início, podemos nos surpreender com tal número, pois afinal de contas ele mostra que quase a metade do número total de municípios emancipados do país estão exportando desde matérias primas a bens de consumo, e olhando para o resultado de superávit relacionamos o lucro com desenvolvimento em tais regiões. Porém, em breve análise, perceberemos o contraste entre as regiões e a predominância da centralização e concentração de um pólo exportador.

Dentre as dez primeiras cidades que tiveram um maior fluxo de exportações no período de janeiro a setembro, encontramos quatro do estado de São Paulo, três do Rio de Janeiro, uma de Minas Gerais, uma do Pará e uma do Paraná, trazendo a tona mais uma vez a disparidade do crescimento econômico do Brasil,entre o fortíssimo eixo sudeste-sul e a debilidade de outras regiões, construindo o seguinte ranking:

1- São Paulo/SP – US$6,416 bilhões

2- São José dos Campos/SP – US$5,085 bilhões

3- Angra dos Reis/RJ – US$4,489 bilhões

4- São Bernardo do Campo/SP – US$3,392 bilhões

5- Paranaguá/PR – US$3,278 bilhões

6- Santos/SP – US$3,223 bilhões

7- Macaé/RJ – US$2,991 bilhões

8- Itabira/MG – US$2,422 bilhões

9- Parauapebas/PA – US$2,648 bilhões

10- Rio de Janeiro/RJ – US$2,530 bilhões

Paralelamente a estes dados podemos visualizar o segundo relatório, onde foi divulgado o índice de desenvolvimento municipal, que considera com igual ponderação três áreas de desenvolvimento humano – Emprego e Renda, Educação, Saúde. A pesquisa é realizada com um recorte municipal com alcance de todo o país. Sendo que o resultado final ficou resumido da seguinte maneira: “Considerando o grupo dos 100 primeiros colocados, 87 municípios estão no Estado de São Paulo. Os 13 restantes dividem-se entre Paraná (Maringá, Londrina e Curitiba), Santa Catarina (Brusque, Videira e Jaraguá do Sul), Rio de Janeiro (Macaé e Niterói), Rio Grande do Sul (Marau e Lajeado), Goiás (Catalão), Espírito Santo (Vitória) e Minas Gerais (Nova Lima).” Neste ponto, fazemos uma breve comparação entre o registro dos dez primeiros de um com os 100 primeiros de outro, pois se alinhássemos apenas os dez primeiros de cada ranking não seria possível uma visualização abrangente. Afinal de contas, no que tange a desenvolvimento municipal, o estado de São Paulo predomina nas 33 primeiras posições.

Na verdade, sabemos muito bem, que esta desigualdade na construção do desenvolvimento econômico brasileiro, a desigualdade entre regiões e a concentração de pólos econômicos não são frutos de acontecimentos recentes . Desde pós-segunda guerra mundial alinhado ao processo de industrialização vivido pelo país, o Brasil entrou em um processo de urbanização e desenvolvimento de pontos estratégicos em seu território. Resultando aglomerações espaciais e concentrações econômicas, fenômeno chamado por muitos de metropolização, que gerou nada mais nada menos do que o que os relatórios acima citados identificam em suas análises.

Este fantasma, de centralização, disparidades regionais, entrada de fluxos financeiros elevados porém baixas taxas de desenvolvimentos locais, nos assombra até hoje, afinal de contas, Angra dos Reis com um total de US$4,489 bilhões, Paranaguá com US$3,278 bilhões, Parauapebas com US$2,648 bilhões, ocupam respectivamente a 427º, 820º, 2154º posição no ranking de desenvolvimento municipal. Este breve olhar, só nos leva concluir que uma plataforma de lucro e superávit não está diretamente ligada a avanço econômico social do local. Infelizmente ainda não aprendemos com nossa construção histórica e permanecemos agindo da mesma maneira. Faz-se necessário a implantação de uma proposta de desenvolvimento conectada com a realidade de todo o país, não apenas com as regiões mais lucrativas e principalmente contextualizada com as novas questões que se abrem neste início de século. Quem sabe, uma proposta de “identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abre ao homem o avanço da ciência”.

  • Com trechos do livro O Mito do Desenvolvimento Econômico – Celso Furtado – 5ªEdição



sábado, 18 de outubro de 2008

Gerar Conhecimento - eis o desafio...




H
oje vivemos na era da informação-globalização, época em que o conhecimento foi colocado no ponto mais alto da hierarquia dos fatores que condicionam o progresso. Fazendo com que diferenças sociais fiquem cada vez mais latentes. Poucos são aqueles que adquirem um conhecimento genuíno, a grande maioria adquire apenas informação. Faz-se necessário então distinguir informação de conhecimento, isto pode ser esclarecido ao ler o trecho do livro Na Era do Capital Humano, de Richard Crawford, “...Um conjunto de coordenadas da posição de um navio ou o mapa do oceano são informações, a habilidade para utilizar essas coordenadas e o mapa na definição de uma rota para o navio é conhecimento. As coordenadas e o mapa são as "matérias-primas" para se planejar a rota do navio. Quando você diferencia informação de conhecimento é muito importante ressaltar que informação pode ser encontrada numa variedade de objetos inanimados, desde um livro até um disquete de computador, enquanto o conhecimento só é encontrado nos seres humanos. (...) Somente os seres humanos são capazes de aplicar desta forma a informação através de seu cérebro ou de suas habilidosas mãos. A informação torna-se inútil sem o conhecimento do ser humano para aplicá-la produtivamente. Um livro que não é lido não tem valor para ninguém. (...)”

Entendendo que conhecimento é sempre o processo de traduzir a informação, seguido de recosntrução, conseguimos diferenciá-lo de informação. Não é conhecimento apenas o que é produzido e depositado nas bibliotecas e centros de documentação, representando a teoria e aumentando a quantidade de informação. Mas conhecimento é contextualizado, circula e interage com a sociedade, de forma a penetrar e se tornar relevante em todas as camadas sociais.

A televisão, os jornais, as revistas e a internet disponibilizam para a população o acesso a informação, maximizando ainda mais um vácuo de valores para os que se limitam apenas ao ciclo disponível nestas mídias. Hoje uma pessoa pode ter acesso num só dia a um número equivalente de informações que um sujeito da Idade Média levaria a vida inteira para obter. Entendo que conhecimento tem muito mais haver com tradução da informação recebida em aplicação prática, do que apenas sua obtenção. Quero citar o que Pascal já dizia no século XVII: “Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes” esta é exatamente uma proposta para hoje. Para ultrapassar o ritmo desta era, é necessário compreender este princípio e fazer com que nossas iniciativas transformem-se em respostas para os questionamentos atuais, ou seja, gerando um conhecimento pertinente trabalhando com interdisciplinaridade.

“Educação com base
em Conhecimento e
não Informação”

Tudo porque as instituições hoje em dia, sejam estatais, privadas ou não-governamentais, estão tão preocupadas em gerar informação para a sociedade e suprir o vácuo que o sistema tem gerado, que esquecem de mostrar através de iniciativas, como traduzir estas informações em prática, o que realmente é conhecimento. Alimentando o ciclo de formar recursos humanos para empregos do sistema e não desenvolvimento humano em sua reais vocações.

As atuais propostas de trabalho precisam andar em um outro ritmo. Estou seguro que utilizando protótipos inovadores poderemos sair da encruzilhada que estamos parados, cumprindo o pleno exercício de nossa função ética, moral e socialmente relevante.

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Na Era do Capital Humano,
Richard Crawford,
Editora Atlas, 1994

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Paul Krugman - Prêmio Nobel de Economia 2008



Krugman, 55 anos, nascido em Long Island, foi eleito o ganhador do Pêmio Nobel de Economia 2008, pela Real Academia de Ciências da Suécia. Professor da Universidade de Princeton e articulista do jornal New Yorker Times.

Na justificativa da escolha do ganhador, o comitê responsável afirmou: "a teoria de Krugman esclarece por quê o comércio mundial está dominado por países que não apenas têm condições similares, mas que também comercializam produtos similares" e mais "as teorias de Krugman têm mostrado que o resultado destes processos podem ser que as regiões fiquem divididas em um centro urbano altamente tecnológico e uma 'periferia' menos desenvolvida".

Em tempos globalizados, Paul Krugman , recebe o prêmio por traçar uma teoria questionando os reflexos da Geografia Econômica e a dialética Concentração ou Descentralização no século XXI.

Escrevo o post de hoje para refletir sobre o exemplo destes homens que estão lançando propostas, buscando respostas para as questões atuais e construindo a história contemporânea.




quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Burocracia potencializa instabilidade


Em tempos de crise, especialistas afirmam que o “porto seguro” para as economias atuais está em sua estrutura macroeconômica, acordos bilaterais e multilaterais. Afinal, “vivemos em uma economia globalizada onde distâncias não existem”. Neste aspecto, um país que fortalece seu comércio exterior diminuindo burocracias, ampliando suas parcerias transnacionais, tende a firmar-se, minimizando conseqüências de possíveis crises. Portanto, o comércio exterior surge como uma plataforma e possível suporte para a estabilidade, porém lado a lado com este possível “salvador da pátria” entra em cena o forte inimigo burocrático atuante em diversos países.



Vivemos um momento marcante neste início de século, uma crise sistêmica ataca a principal economia mundial, os EUA. Poucos dias depois do auge da crise em solo americano, instituições financeiras decretaram falência e o FED iniciou uma série de pacotes bilionários para salvar outras instituições, os efeitos começaram a ser sentidos ao redor do mundo. Bolsas despencaram em solo europeu e asiático, estimativas de crescimento entre os emergentes começaram a ser reformuladas, e outras surpresas dramáticas surgiram. Diante deste cenário, muitos se preocupam com as grandes economias e o bloco de emergentes, porém, não podemos deixar de olhar para as implicações desta tormenta mundial nas pequenas economias, como por exemplo, os países da África Subsaariana, afinal de contas, o continente africano tem sido alvo de várias investidas de empreendedores internacionais.




Seguindo esta linha de pensamento, no último dia 10 de setembro, o IFC – International Finance Corporation – e o Banco Mundial, publicaram o relatório – Doing Business 2009 (Fazendo Negócios 2009) – que analisa anualmente 181 economias de todo o mundo. O relatório avalia regulamentações relacionadas com o processo de estabelecimento de um novo negócio dentro do país. São analisados 10 estágios: facilidade para iniciar um negócio, lidar com alvarás de construção, empregar trabalhadores, registrar a propriedade, obter crédito, proteger investidores, pagar impostos, negociar no exterior, cumprir contratos e fechar um negócio. As informações deste recente relatório foram atualizados no dia 01/06/2008 e segundo o IFC, “os indicadores são usados para analisar os resultados econômicos e identificar quais reformas funcionaram, onde e por que funcionaram”.




No processo de fortalecimento do comércio internacional e reforma de sistemas burocráticos, o relatório mostra que “as economias da África implementaram mais reformas do que em qualquer ano anterior considerado”. Cerca de 28 economias implementaram um total de 58 reformas para quebrar com burocracias e facilitar a abertura de novos negócios em seus territórios. Dentre as 10 principais economias que realizaram reformas no ano, três são africanas, Senegal, Burkina Faso e Botsuana. Alguns fatores que tem facilitado a ascensão de tais economias, elevando a taxa de crescimento para a média de 6%, são exatamente as melhorias das condições macroeconômicas e a paz no continente, dando bons ares para as perspectivas de desenvolvimento dos próximos anos. Entretanto, não podemos ficar tão otimistas quando a turbulência afeta exatamente uma das pontas das alianças comerciais, de um lado as transnacionais expansionistas e do outro os territórios ricos em matérias primas e oportunidades. A crise está afetando exatamente o motor de expansão, se romper as burocracias em tempos de bonança já era um desafio, fica mais difícil com a falta de combustível neste motor. Por isso, quanto mais reformas no sistema comercial forem estabelecidas, um maior favorecimento terá a economia local.




Neste ponto, destaca-se a situação de São Tomé e Príncipe, considerado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, como um país “forte em recursos naturais” porém um “estado frágil”, uma das razões para esta classificação é a instabilidade de seu fluxo econômico, por apresentar um crescimento de 6,0% em seu PIB e em contrapartida um déficit na balança comercial de 42,2% deste PIB. Caminhando contra a corrente da ascensão africana considerada pelo IFC, no ímpeto dos reformadores, o país não apresentou nenhuma reforma em seu sistema de estabelecimento de um novo negócio. Com pouca diversidade nos produtos exportados e uma crescente elevação de produtos importados, o arquipélago, apesar de possuir um potencial em fontes naturais, permanece com uma postura de consumidor sem abrir portas e gerar oportunidades para inverter o quadro. Com exceção de Portugal, um dos principais países na lista de investidores estrangeiros dentro das ilhas, poucas são as iniciativas transnacionais que circulam dentro do território são-tomense.




A principal causa deste entrave, é a enorme burocracia presente no país para o estabelecimento de novos empreendimentos. Dentre as 181 economias analisadas pelo relatório Doing Business 2009, o país permanece na 176 posição. Uma das razões é a instabilidade de sua política interna, devido a queda de governos e mudanças de planejamento constantes durante o ano. Além disso acusações de corrupções e falta de transparência dentro das ações firmadas pelo governo espantam possíveis empreendedores da região.




Analisando a questão por este ângulo, observa-se que as barreiras geográficas presentes no pequeno país insular não seriam a principal causa do atraso econômico, antes a estrutura burocrática na qual os acordos são estabelecidos. Estes entraves burocráticos são os principais empecilhos do estabelecimento de parcerias de longo prazo na região. Estando certo de que São Tomé e Príncipe não está isolado neste universo de leis e formulações burocráticas, como o próprio relatório do IFC mostra, várias são as economias que permanecem prejudicadas no caminho de inciar e finalizar um negócio. 


terça-feira, 7 de outubro de 2008

"Entre tapas e beijos" - Parte II

A novela continua....resumo do último capítulo (post do dia17/09/2008):

...É intrigante, no que tange relações bilaterais entre países da América do Sul, o discurso de união, fortalecimento e desenvolvimento regional se torna um sonho longe da realidade que presenciamos. A pauta mais se assemelha a música brega : ”hoje estamos juntinhos, amanhã nem te vejo, separando e voltando, a gente segue andando, entre tapas e beijos”. Até quando nós como brasileiros iremos aturar este perfil de política internacional? ...

Primeiro personagem da história foi "El Hermano Argentino", logo em seguida, surgiu de forma surpreendente "La chipa Paraguaya", quando pensávamos que a história estava esfriando, apareceu em cena "el revolucionário Chaves" e por último mas não menos confuso, "el boliviano Moralles". E em todos estes capítulos, sobrou para nós, o "gigante do norte", Brasil.

Eu particularmente achei que a novela tinha acabado. Ingenuidade minha! Esta semana, mais um personagem apareceu, simplesmente de forma inesperada porém gerando muitas intrigas. Adiantarei o nome do tal sujeito, "el amiguito Equador" porém desta vez irei economizar nas palavras, aconselhando vocês a verem a continuação da novela clicando aqui , com comentários de Míriam Leitão. 


Quando o Brasil irá se posicionar, eu pergunto. Será que a novela irá continuar?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Comentário de Míriam Leitão na CBN

Segundo Míriam Leitão, a recente crise americana esta assustando economistas em todo o mundo. Apesar da proposta do governo americano  de apoio ao sistema financeiro ter sido aprovada no senado, e agora encaminhada para votação na Câmara, a "preocupação é de fato com a economia real". Em sua análise ela conclui que "está caindo a ficha de que não há uma pílula milagrosa para salvar a economia". Ouça  seu comentário na rádio CBN agora a tarde: aqui               

Na minha opinião a idéia do mercado é: "em time que está ganhando não se mexe", agora a questão é: quem disse que o time tá ganhando? 

É preciso mudar de tática!